Condutor do autocarro agredido e esfaqueado. Imagens podem chocar

No local esteve montado um forte dispositivo policial. A vítima foi inicialmente encaminhada para o Hospital Amadora-Sintra mas, devido à gravidade dos ferimentos, seguiu para o Hospital São Francisco Xavier, onde está internado.

Ao que a SIC apurou, além do uso de força física, o homem foi também esfaqueado.

Fonte da PSP garantiu inicialmente à SIC que a vítima seria o motorista do autocarro que, no passado domingo, denunciou a passageira Cláudia Simões, que alega ter sido espancada pelo agente que a deteve. Contudo, num novo contacto, diz apenas que se trata de um motorista da Vimeca, a mesma empresa do homem envolvido no caso, sem confirmar ou negar que seja o motorista que denunciou Cláudia Simões.

AGRESSÕES NA AMADORA: A VERSÃO DE CLÁUDIA SIMÕES

Cláudia conta que eram 22 horas quando entrou com a sua filha, de oito, num autocarro. Tinha-se esquecido do passe da filha, mas prometeu ao motorista que apresentava o documento quando chegasse à paragem de destino, onde estaria o filho à sua espera. A viagem continuou até que o motorista decidiu expulsar uma mulher brasileira e a neta, que seguiam também sem passe, proferindo, segundo Cláudia, expressões como “vão para a vossa terra, isto não é uma praça”. Cláudia acrescenta que saiu na paragem seguinte e que o motorista decidiu chamar a polícia, tendo-se apresentado o “Sr. Agente Calha, que vinha a sair da “Taberna da Porcalhota”“, como se lê no comunicado.

Cláudia alega que o agente da PSP a abordou de forma agressiva, tendo dado um “safanão no telemóvel” e ordenado que se sentasse no passeio. Insistiu que queria sentar-se no banco da paragem, uma posição que lhe valeu a “aplicação de uma manobra designada por mata leão”.

“No chão, sentou-se em cima de mim, na zona lombar, pressionando-me contra o chão não só imobilizando-me como também asfixiando-me por completo. Tentei evitar que me sufocasse, vendo-me a perder as forças e receando morrer mordi-lhe um braço, com as poucas forças que me restavam.”, conta Cláudia.

De acordo com o documento, este foi apenas o começo de uma noite de agressões. O “pior” começou quando Cláudia e o agente Calha entraram no carro da polícia, onde se encontravam mais dois operacionais.

“… Assim que colocaram a viatura em andamento, fecharam os vidros, puseram a música alta, e a barbárie começou: o Sr. Carlos Calha esmurrou-me até lhe apetecer, enquanto proferia as seguintes expressões: “sua p…, sua preta do c……”, ” a preta é rija””, denunciou, explicando que o agente acabou por sofrer ferimentos nos dedos após lhe ter dado um murro nos dentes.

O carro demorou a chegar à esquadra de Casal de São Brás, onde iria ser ouvida. Chegados à esquadra, o agente puxou-a para fora do carro e virou-a de lado após a recomendação de um colega.

“É então que os Srs. Agentes começam a tentar perceber se eu ainda respirava e após dizer que “ainda respira” acharam então por bem virar-me; como não o conseguiram fazer comigo algemada retiraram-me as algemas; deixaram-me permanecer caída no chão”.

Cláudia explica que só depois chamaram uma ambulância e a levaram para o hospital. Acrescenta que, enquanto estava a ser assistida, foi-lhe dado um papel para assinar, a pedido dos agentes, que alegadamente se recusaram a lê-lo, mesmo quando a mulher não conseguia abrir os olhos. Mais tarde, disseram-lhe que o documento se tratava da constituição de arguido, sendo que já vinha com as suas informações pessoais inscritas. Levantou-se ali uma questão: como é que os agentes acederam aos elementos de identificação?

Segundo Cláudia, quando estava na ambulância “os Srs. Agentes levaram a mala; na qual tinha o cartão de cidadão na carteira entre outros documentos; posteriormente vieram entregar a mala à Sra. Bombeira”.

Este é o lado da história da mulher que se tem mostrado, em várias entrevistas, com as feridas alegadamente deixadas por um agente da polícia. Cláudia confessa que pensou que episódios de violência semelhantes só aconteciam em filmes de ficção ou em países do terceiro mundo.

O QUE DIZ A PSP

Sobre as circunstâncias da ocorrência, a Direção Nacional da PSP informou que o polícia acusado de agredir a mulher detida “foi abordado pelo motorista de autocarro de transporte público que solicitou auxílio em face da recusa de uma cidadã em proceder ao pagamento da utilização do transporte da sua filha, e também pelo facto de o ter ameaçado e injuriado”.

Ao contrário da denúncia contra o polícia, a PSP afirmou que a mulher reagiu de forma “agressiva” perante a iniciativa do polícia em tentar dialogar, “tendo por diversas vezes empurrado o polícia com violência, motivo pelo qual lhe foi dada voz de detenção”.

A partir do momento da detenção da mulher, alguns outros cidadãos que se encontravam no interior do transporte público tentaram impedir a ação policial, nomeadamente “pontapeando e empurrando o polícia”, disse a Direção Nacional da PSP, em comunicado, acrescentando que o polícia se encontrava sozinho.