Resposta da TVI «A TVI não vai alimentar divisões fúteis e fictícias»

direção da TVI apresentou um pedido de desculpas por ter emitido uma reportagem sobre explicações para o maior número de casos de covid-19 no norte do país, em que se dizia que a região era mais afetada por ter uma população “menos educada”, “mais pobre e envelhecida” e “muito concentrada em lares”. Estes motivos apareciam como nota de rodapé da peça jornalística o que motivou o protesto imediato de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, e de muitos cidadãos do norte e de outras regiões.

A reportagem, emitida nos Jornal das 8, procurou explicações para haver muitos casos no norte. Segundo a Direção-Geral de Saúde, atualmente a região norte já ultrapassa os 10.000 casos confirmados, enquanto a segunda região mais afetada, Lisboa e Vale do Tejo, apresenta 3.994 casos.

Sérgio Figueiredo, diretor de informação do canal, decidiu esta terça-feira retirar a reportagem do site da TVI e, através de um comunicado, pediu desculpas pelo “erro grosseiro”, apesar de referir que a intenção do trabalho foi “genuinamente construtiva e socialmente relevante”.

O jornalista disse que “o Jornal das 8 de ontem [segunda-feira] emitiu uma peça que pretendia explicar os motivos que levam a Região Norte a constituir-se como a parte do território nacional onde a Covid-19 regista um número bastante superior de casos positivos e de óbitos devido à pandemia, face às outras regiões”

Para Sérgio Figueiredo, “a TVI fez o que estava certo: questionou algo relevante, falou com quem sabe e produziu uma reportagem com uma intenção genuinamente construtiva e socialmente relevante”. Mas admite que chegou a conclusões erradas.

Reconhece o diretor da TVI que “isto não justifica, porém, a construção de uma frase infeliz no ecrã, nem a parte do texto que a suportava. Nomeadamente aquela que, entre as razões demográficas e sociológicas indagadas, sugeria níveis de educação abaixo da media nacional. Essa frase foi por muitos interpretada como uma ofensa às gentes do Norte – o que não era evidentemente o nosso propósito”.

O responsável da TVI afirma ainda: “Com a mesma humildade que a todos pedimos desculpas por um erro que lamentamos, temos a convicção que a TVI dá a relevância que o Norte justifica na mancha de cobertura informativa que diariamente, semana após semana, anos a fio, lhe dedicamos e que continuaremos a fazê-lo”.

A reação de Rui Moreira
Esta reação surge depois de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, ter publicado um extenso texto crítico na sua página de Facebook em que acusou a TVI de “portofobia” e de “desinformar” os portugueses. “Assim se pede à TVI para que contribua nesta campanha de informação correta, rigorosa e clara e que não leve à criação de estigmas e mitos que, no limite, prejudicam o combate à doença. E não foi isso que ontem fez a TVI, ao desinformar”, escreveu o autarca.

Após o pedido de desculpas da TVI, Rui Moreira voltou ao Facebook para publicar a reação da estação de televisão. “Por ser eticamente correto”, o autarca diz que “naturalmente, o “Porto sabe aceitar” as desculpas da TVI.

Entretanto, o vice-presidente da bancada do PS João Paulo Correia apresentou queixa na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) contra a TVI alegando que passou um rodapé de notícia considerado um “ataque” ao Norte do país. João Paulo Correia adiantou à agência Lusa que também apresentou um protesto dirigido ao diretor de informação da TVI, exigindo um pedido de desculpas pela peça emitida no Jornal das 8 desta estação televisiva.

Na sua queixa à ERC, o dirigente da bancada socialista refere que na segunda-feira, no Jornal das 8 da TVI, passou uma peça sobre o número de infetados com covid-19 no Norte do país com o título de rodapé “População menos educada, mais pobre, envelhecida e concentrada em lares”. Para João Paulo Correia, “trata-se de uma conclusão inaceitável, que só pode envergonhar os seus autores, quer pela inconsistência científica associada, quer pelo cariz preconceituoso contra a região e suas populações”.

Com dez mil casos confirmados na região, a diretora-geral de Saúde já apontou que este elevado número de infeções no norte pode estar ligado a focos iniciais de contágio. “Soubemos desde o primeiro dia que foi na região norte que existiu uma grande concentração de casos importados”, disse Graça Freitas, e há os exemplos da deslocação de muitos empresário nortenhos – sobretudo dos setores de calçado e têxtil – à Lombardia, em Itália, na fase inicial da epidemia. Assim terá havido muitos casos importados que geraram “muitas cadeias de transmissão secundárias”.